Nacional
BRITALAR: um atentado à vida dos moçambicanos
2015-07-15 11:04:04 (UTC+01:00)
A empresa Britalar, empreiteiro do edifício do Grupo JAT, onde irão funcionar os escritórios do INSS onde aconteceu o terrível acidente de ontem com o desabamento da estrutura de suporte, matando operários que batalham pelo pão de cada dia.
MAPUTO - A Britalar começou a operar em Moçambique em 2011. No mesmo ano ganhou a sua primeira obra - a reabilitação de fundo da avenida Julius Nyerere. Logo no acto do concurso ficou uma suspeita que algo iria correr mal - a distancia com que venceu o concurso a mais de 5 milhões de Dolares de diferença do segundo classificado deixava antever problemas - em construção ou em economia não há milagres. Cedo dois episódios marcaram esta primeira empreitada: o incumprimento dos prazos e a má qualidade das obras.
O primeiro troço da avenida Julius Nyerere, da Praça do Destacamento Feminino ao nó do Palmar, na rotunda que dá acesso à zona da Escola Portuguesa e o Mercado do Peixe tinha como primeiro prazo de entrega Dezembro de 2012 mas não aconteceu. A tentativa de entregar o mesmo troço em Maio de 2013, foi mais uma vez um insucesso, sendo que nessa altura a mesma via já apresentava sinais de degradação, ou seja, segundo os especialistas, por terem não terem sido respeitadas regras básicas na construção de estradas, como por exemplo, não puder fazer determinadas actividades sobre chuva, levaram a que cedo aparecessem crateras (buracos enormes) mesmo antes da sua entrega ao Conselho Municipal de Maputo - dono da obra. Na altura, a FOLHA DE MAPUTO, fez uma série de reportagens alertando para a não seriedade do empreiteiro e da qualidade dos trabalhos ali executados.
Em Julho do ano passado, a edilidade reconheceu que as sucessivas interrupções nas obras podiam comprometer o prazo estabelecido para a entrega, na altura renovado para Outubro e pressionou os empreiteiros no sentido de tudo fazerem para garantir que não se voltasse a adiar a conclusão do empreendimento. Mesmo assim, a Britalar não conseguiu honrar com o seu compromisso, numa obra que o Município de Maputo tinha que desembolsar 12,5 milhões de dólares, cerca de 400 milhões de meticais.
Em Janeiro deste ano, a edilidade decidiu rescindir o contrato com esta empresa Britalar por sob orientação da 36.ª sessão ordinária do Conselho Municipal que incluía, para além do fim do contrato com o consórcio, o lançamento de um novo concurso público para a selecção de um novo empreiteiro para a conclusão dos trabalhos iniciados em 2011, e que deviam ter terminado em 2012. A máxima ficou comprovada - o barato saiu caro!
BRITALAR VOLTA A SER NOTÍCIA POR MÁS RAZÕES
A Britalar Sociedade de Construção volta agora a ser notícia, pelas piores razões, desta feita, pelo desabamento da estrutura de andaimes na tal obra do grupo JAT, onde irão funcionar os escritórios do INSS, matando, no balanço preliminar, cinco pessoas e ainda sete trabalhadores com ferimentos graves.
Será que era necessário morrerem Moçambicanos para percebermos o quão perigosa é esta firma? Se as viaturas que passam pela Julius Nyerere, obra obviamente sem qualidade, feita por esta companhia fossem pessoas, nenhum estaria vivo. Uma pesquisa rápida e descobrimos o óbvio, a obra da Julius Nyerere foi a primeira estrada da Britalar. Justamente a principal via de Maputo.
HISTÓRICO DA BRITALAR
Uma pesquisa rápida e descobrimos o óbvio, a obra da Julius Nyerere foi a primeira estrada da Britalar. Justamente a principal via de Maputo ganha por concurso em 2011 pela Britalar Moz, uma extensão da sua congénere portuguesa Britalar Engenharia. Em 2013, quando a Folha de Maputo reportava o incumprimento dos prazos e falta de qualidade na obra da Julius Nyerere em Maputo, em Portugal a companhia estava à beira da falência.
A Britalar tinha uma dívida acumulada de muitos milhões de euros a banca e a fornecedores de várias regiões de Portugal. Naquele momento, várias obras em Portugal estavam paradas e pelo menos 30 credores já ponderavam avançar com pedidos de insolvência, segundo avançava o jornal Português, Correio da Manhã.
Em Março de 2013, citado pelo Correio da Manhã, o proprietário da Britalar, António Salvador, admitiu que a empresa passava por dificuldades financeiras graves que, segundo o empresário, iam colocar em causa a sobrevivência da empresa.
Como é que uma empresa, com um histórico como este ganha concursos públicos?
A FOLHA DE MAPUTO promete trazer, nos próximos dias, todos os detalhes sobre a Britalar e igualmente espera desenvolvimentos da Comissão de inquérito, multissectorial, criada ontem que, de imediato, embargou as obras , enquanto decorrem as investigações.
No primeiro contacto que a FOLHA estabeleceu na obra, um conceituado técnico da peritagem de uma empresa de seguros, deixou logo claro um problema grave a nível de segurança (tendo inclusivamente confidenciado que em variadissimas outras obras no país acontece exactamente o mesmo), onde a norma elementar de segurança para este tipo de construção obriga a que "…cada trabalhador deve estar preso ao cinto talabarte na linha de vida (basicamente um cabo de aço preso a estrutura) fixado no pilar do pavimento em que estiver a trabalhar" o que "…aqui nesta obra está claríssimo que não aconteceu".
Finalizou dizendo que "este deve ter sido o pior dos acidentes na área de construção desde a independência nacional que tenho conhecimento". Paz as suas almas.[MCM]