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Dívidas ocultas: Terceiro banqueiro do Credit Suisse dá-se como culpado

2019-09-13 12:39:57 (UTC+01:00)

O antigo director no Credit Suisse Global Financing Group,Surjan Singh,deu-se como culpado de conspirar para “lavar dinheiro”,no caso das dívidas ocultas de Moçambique, segundo um documento do tribunal a que a Lusa teve acesso.

MAPUTO- De acordo com o documento sobre a “Causa Criminal para Declaração”, Surjan Singh está livre sob fiança e deu-se, na sexta-feira da semana passada, como culpado,na quarta acusação de conspiração para cometer o crime de lavagem de dinheiro.

Singh junta-se assim aos seus dois antigos colegas do Credit Suisse,que também já se deram como culpados na participação doesquema para defraudar o Estado de Moçambique,em cerca de 200 milhões de dólares, de um negócio de mais de 2,2 mil milhões de dólares,que causou uma crise financeira e económica no país e fez com que ohabitualapoio dos doadores fosse suspenso.

A antiga banqueira do Credit Suisse,Detelina Subeva,deu-se como culpada da acusação de conspiração para lavagem de dinheiro em Maio: "concordei, juntamente com outros, em ajudar a lavar as receitas de actividades criminais, nomeadamente,subornos ilegais pagos por uma empresa chamada Privinvest e pelo seu representante, Jean Boustani", admitiu.

Os pagamentos ilícitos, que Subeva diz terem sido feitos em 2013, estavam ligados a um empréstimo do Credit Suisse a uma empresa pública moçambicana, acrescentou a antiga vice-presidente da unidade de financiamento global do Credit Suisse.

Subeva explicou então ao juiz que o seu chefe, Andrew Pearse, lhe disse que ia transferir 200 mil dólares para uma conta que ela tinha recentemente aberto e que vinham de subornos pagos por Boustani e a Privinvest aoPearse, no valor de um milhão de dólares.

"Eu concordei em aceitar e ficar com estes dinheiros,sabendo que eram provenientes de actividades ilegais", confessou a antiga banqueira, que viu o Ministério Público norte-americano desistir de três outras acusações de conspiração, não sendo ainda claro se também foi feito um acordo sobre a pena,que pode ir até 20 anos de cadeia ou de ficar em liberdade.

Em Julho, o banqueiro neozelandês,Andrew Pearse,também se deu como culpado dos crimes de que é acusado, mas não ficou claro se o ex-banqueiro está ou não a cooperar com as autoridades norte-americanas, já que a sua confissão e outros relatos sobre o esquema estão sob sigilo.

Na investigação, a Justiça norte-americana acusa membros do anterior Governo de Moçambique, a Privinvest e três ex-banqueiros do Credit Suisse de terem criado um falso projecto de defesa marítima para receberem mais de 200 milhões de dólares em subornos,para si próprios,em acordos assinados em 2013 e 2014.

A descoberta dosempréstimos contraídos com aval do Estado,mas sem registo nas contas públicas e sem divulgação aos parceiros internacionais,levou os doadores a cortarem a assistência internacionale as agências de rating a descerem a opinião sobre o crédito soberano.

Em consequência, aumentou o rácio da dívida pública sobre o PIB, o que arredou o país do financiamento internacional, atirando Moçambique para 'default' e para uma crise económica e financeira que ainda persiste.