Nacional
Nyusi quer oficiais da Renamo a combater grupos armados
2018-08-17 08:58:26 (UTC+01:00)
O Presidente da República, Filipe Nyusi, desafiou os oficiais promovidos no exército, por indicação da Renamo no âmbito das negociações de paz, a usarem a sua experiência no combate contra grupos armados que têm atacado Cabo Delgado.
MAPUTO- "A afronta ao Estado moçambicano pelo grupo de malfeitores em alguns distritos do norte da província de Cabo Delgado é um desafio imediato e deve merecer a pronta e eficaz resposta das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), com o vosso individual envolvimento", disse Filipe Nyusi.
Filipe Nyusi falava durante a cerimónia de promoção de oficiais indicados pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) nas Forças Armadas de Moçambique, no âmbito dos consensos alcançados nas negociações de paz no ponto sobre a desmilitarização do braço armado do maior partido de oposição.
O chefe de Estado moçambicano falava sobre os ataques de grupos armados a povoações remotas da província de Cabo Delgado, situada entre 1.500 a 2.000 quilómetros a norte de Maputo, desde Outubro de 2017, tendo provocado um número indeterminado de mortos e deslocados.
Os grupos que têm atacado as aldeias nunca fizeram nenhuma reivindicação nem deram a conhecer as suas intenções, mas investigadores sugerem que a violência está ligada a redes de tráfico de heroína, marfim, rubis e madeira.
Para o chefe de Estado, cabe às FADM defender a independência, soberania e integridade do Estado, numa altura em que ameaças exigem maior união entre os moçambicanos.
Nyusi destacou ainda que os oficiais promovidos devem usar a sua experiência para garantir a paz e estabilidade no país num ambiente de união e respeito pela nação, valores que estão incluídos nos entendimentos entre o Governo e a Renamo.
"Hoje testemunhamos novamente que as FADM são um laboratório de preservação da paz, coesão e reconciliação dos moçambicanos", observou o chefe de Estado, lembrando que estes oficiais já estavam a servir o país dentro do exército.
Entre os promovidos destaca-se os coronéis Xavier António e Araújo Anderiro Maciacona ao posto de brigadeiro e o capitão-de-mar-e-guerra Inácio Luís Vaz ao posto de comodoro.
No total, foram 18 oficiais patenteados, entre majores, tenentes-coronéis, coronéis e brigadeiros, num evento que contou com a presença de várias personalidades, entre quadros do Governo e antigos mediadores de processo negocial entre o Governo e a Renamo.
O Coronel Arone Alberto Nema, que foi promovido, disse que os desafios são vários, desde a defesa da pátria até a preservação da paz no país.
"Eu esperava por esta patente há muito tempo. Eu fiquei como capitão por 25 anos, mas eu já sabia que iria ascender a uma patente que me satisfizesse", observou o coronel, acrescentando que a paz veio para ficar.
No dia 06 deste mês, o Presidente moçambicano anunciou a assinatura de um memorando de entendimento entre o Governo e a Renamo sobre a desmilitarização e a integração das forças do principal partido da oposição no exército e na polícia.
O chefe de Estado moçambicano não avançou detalhes sobre o conteúdo do documento, mas afirmou que se trata de um instrumento "determinante" nas negociações de paz com o falecido líder da Renamo, Afonso Dhlakama, que morreu em 03 de Maio devido a complicações de saúde.
O actual processo negocial entre o Governo moçambicano e a Renamo arrancou há um ano, quando Filipe Nyusi se deslocou à Gorongosa, centro de Moçambique, para uma reunião com Dhlakama no dia 06 de Agosto do ano passado.
Além do desarmamento e integração dos homens do braço armado do maior partido de oposição nas forças armadas, a agenda negocial entre as duas partes envolvia a descentralização do poder, ponto que já foi ultrapassado com a revisão da Constituição em Julho.