Opinião
30 anos imortalizando "Samora" e os desafios da Cultura
Neste ano (2016) celebramos 30 anos após a tragédia de Bonzine que culminou com a morte do saudoso Presidente Samora Moisés Machel, um homem carismático e caracterizado pelo seu Espírito nacionalista nos projectos de criação da nação.
2011 (a quanto a governação de Armando Guebuza)— decretou —se "ano Samora Machel" onde presenciamos diversas actividades de potencialização dos seus ideias. Herdamos deste ano memórias sobre as visões de Samora e Estátuas nas diversas praças nas capitais provinciais que constituí hoje um verdadeiro património histórico que liga as diversas comunidades com a história do seu povo.
A semelhança de 2011, neste ano (2016), na passagem do trigésimo aniversário da morte de Samora Moisés Machel, o Centro de Estudos Africanos (CEA), da Universidade Eduardo Mondlane junto do Centro de Documentação Samora Machel (CDSM) estão a desencadear um movimento de reflexão e re-significação de noções e princípios caros e fundantes da consciência de pertença a uma pátria e nação moçambicana, articulados à partir de uma multiplicidade de factores e elementos identitários. A questão de fundo que surge perante está eventualidade é:
Se Samora estivesse vivo, qual séria o seu pensamento sobre o actual estado da Cultura no país?
Samora foi, é e sempre será uma figura incontornável na construção de uma nação una. Ele queria fazer da Cultura um instrumento de unificação do povo, da valorização da nossa moçambicanidade. Foi na sua época que se vivenciou o primeiro festival de dança popular, o então festival Nacional da cultura e outros projectos de democratização cultural.
Samora mostrou que somos todos filhos da mesma nação, com mesmas origens e traços culturais, incluindo no seu governo e dirigentes das diversas parte do País.
A Cultura era para Samora, "o sol que nunca desce" — um elemento chave de construção de nação que todos deviam orgulhar-se.
Ser cidadão Moçambicano, significa para mim, ser obreiro destes ideias, que é ao mesmo tempo um acto de reconhecimento das nossas origens e da nossa história. É difícil afirmar-me como Moçambicano sem ter orgulho da minha Cultura, das minhas diversas línguas maternas e da minha tradição. Uma Cultura que foi durante muitos anos ignorada pelo colonialismo e reconstruída tempo depois pela Frente de libertação de Moçambique usando-a como ferramenta de unificação do povo.
"Samora vive" porque os seus ideias ainda residem nos processos de afirmação da nossa nação. A diversidade cultural, a equidade do género, igualdade de acesso à cultura e à formação do capital social constituí hoje uma realidade no nosso território.
Surgiram instituições que fazem da Cultura uma ciência da comunidade, uma ferramenta de investigação e de valorização do património Cultural e das memórias vivas do povo.
Através destas instituições busca-se, sem dúvidas formar pivôs para a recuperação histórica e crítica de marcos narrativos, discursivos, experiências vivência e representações sobre a nossa Moçambicanidade - A cultura está presente em cada um destes aspectos.
Apesar destas grandes conquistas, o estado deve hoje criar mais espaços culturais e oportunidades para o acesso igualitário da Cultura. Reconhecer os processos de evolução cultural e modernizar os seus instrumentos de actuação (como estado) de acordo com o contexto actual.
A gestão Cultural de hoje, deve centrar —se no povo dando —o a oportunidade de participar nos diversos processos de tomada de decisão, nos planos de elaboração de diferentes instrumentos que lhe dizem respeito. O desenvolvimento cultural, não vincula—se simplesmente na qualidade ou quantidade dos músicos, dançarinos ou dramaturgos mas também na inclusão destes nos processos de construção de nação e do desenvolvimento do Estado.
É nesta perspectiva que o CEA e o CDSM buscam engajar múltiplas gerações de actores num movimento, que se pretende crescente e abrangente, de mapeamento e resignificação de conteúdos e valores associados a noção de Pátria tendo como pressuposto inspirador os ideias de Samora.
Por ser moçambicano, com orgulho da minha nação, estarei presente no seminário provincial deste movimento a ter lugar no dia 29 e 30 de Novembro no Instituto Superior de Artes e Cultura.
A vós escravos do nacionalismo, meus pares, os meus profundos comprimentos.
Mais artigos de Belarmino Lovane