Opinião

A PAZ TAMBÉM DEPENDE DA RESPOSTA DO CLAMOR DOS GUERRILHEIROS POR PARTE DAS LIDERANÇAS DA RENAMO

À partida, julgamos que fosse tudo comédia quando recentemente, assistimos as reivindicações de alguns guerrilheiros da Renamo, em relação a renúncia de Ossufo Momade do cargo de Presidente, alegadamente por estar a perseguir e a executar alguns oficiais.

Quem deu as caras foi o Major General Mariano Nyongo, que junto dos seus pares, exigia a renúncia de Ossufo Momade até o dia 10 de Julho e, que seguidamente fosse indicado um novo candidato as eleições de 15 de Outubro próximo.

As reivindicações agudizaram-se por alegadas execuções sumárias de alguns oficiais, fies ao ex lider Afonso Dhlakama, um dos quais, o Brigadeiro Jossefa, que os guerrilheiros juravam de pés juntos ter sido executado. Para surpresa de todos, afinal o Brigadeiro não havia sido morto, dado que foi publicamente apresentado no dia 19 de Junho, pelo Porta-Voz do Partido José Manteigas, no meio de uma mata serrada em Inhaminga, distrito de Cheringoma, Província de Sofala e, já ostentando uma nova patente do escalão da hierarquia militar, o de Major General da residual força da Renamo.

Este episódio, controverso a mistura, ajudou a perceber que estamos perante conflitos internos do Partido, sobretudo da ala militar.

Mesmo depois de "dissipados" alguns "equívocos" por parte do Major General Jossefa, sobre as alegações do Major General Nyongo, a outra súplica veio recentemente das matas de matocoza, localidade de Tsenani, distrito de Funhalouro, província de Inhambane, por parte do Tenente-Coronel João Machava, que apareceu publicamente também a reivindicar a renúncia de Ossufo Momade, por alegadamente ter criado cativeiros, numa demostração clara de perseguição aos Oficiais fies ao ex lider Afonso Dhlakama.

Um dado digno de realce no meio deste alvoroço é a vontade inquestionável de entrega das armas, por parte dos guerrilheiros e seu compromisso com a paz. Desta feita, urge reiterar as lideranças da Renamo, a levar a peito estas reivindicações, com vista ao alcance da Paz tão almejada por todos. Se antes, haviam dúvidas sobre a conclusão do Processo de desarmamento, desmobilização e reitegração dos homens da renamo, famoso DDR, hoje esta vontade tem sido manifesta pelos próprios guerrilheiros, pese embora, ligeiramente ameaçada, em virtude dos novos acontecimentos.

Não se pode deixar cair por terra os ganhos visíveis do memorando de entendimento assinado no ano passado, entre o Presidente Nyusi e o Líder da Renamo Ossufo Momade, que culminou com o enquadramento de 14 Oficiais da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança.

"Até a primeira semana de Agosto Moçambique deverá ter um acordo de paz Definitivo", esta foi, pelo menos a intenção expressa recentemente pelo Presidente Nyusi e o líder da Renamo depois do encontro havido em Chimoio em Junho passado.

A luta pelo poder, clivangens internas e a manipulação da ala militar, podem estar na origem dos recentes episódios, mas o que o povo moçambicano realmente almeja, é o desfecho deste dossier, e que as eleições sejam realizadas num clima de paz.

Uma garantia foi dada pelo Presidente Nyusi "A lei de amnistia tem de ser criada por forma a que os que largam as armas, tenham a certeza de que não vão ser perseguidos aqui e acola".

Eurico Nelson Mavie

Eurico Nelson Mavie

É natural de Maputo e formado em Administração Pública pelo Instituto Superior de Relações Internacionais e Diplomacia. Nesta instituição presidiu a Associação dos Estudantes e foi colaborador do Conselho Nacional da Juventude (CNJ). Após conclusão do curso, foi convidado a trabalhar na New Vision (Centro de Formação Profissional) como Director Pedagógico. Na mesma altura foi encarregue de chefiar a equipa responsável pela codificação do Acervo Documental da Unidade Técnica da Reforma do Sector Público. Actualmente é pesquisador e analista político.