Opinião

Estamos fabricar minas retardas que um dia poderão amputar nossas pernas

Está cada vez mais visível que a próxima guerra de desestabilização, no mundo, não será mais emboscada a calada da noite ou mesmo através de Avtomát Kaláshnikova, também conhecida como Kalashnikov, ou simplesmente AK-47.

O boato propagado através da tecnologia cresce dia após dia, e enquanto não nos bate a porta do nosso familiar, a nós próprios, ou de alguém próximo, iremos continuar a repassar mensagens, que, as vezes, nem o conteúdo e finalidade desconhecemos.

Estamos a bater fundo em matéria de fabricar informações que colocam em risco laços de familiaridades, relações laborais, relações socioculturais ou mesmo tribais. Estamos a bater fundo em fabricar notícias falsas que colocam em perigo as relações humanas. Esquecemos que somos pais, mães, primos, tios, avos, esposos, mulheres, filhos, jovens, cunhadas, amigos, colegas e entre outros.

A educação virtual que devia ser nossa arma importante para as nossas gerações, parece estar a perder seu sentido. Já não se tem sensibilidade de nada. Até os mortos, feridos, doentes, não têm como ter tranquilidade. São arrastados para os nossos murais como de entretenimento fosse. Tudo isso fazemos porque são os outros. Não nos importamos com os outros. Será que gostaríamos de ver nosso familiar, ou nós mesmos anunciados (num repassando) de que partiu para o pai celestial ou que estamos em agonia ou coisa igual?

Uma das características do Fake News (Noticias Falsas) é de conter verdades sobre nós, com doses de mentiras. Exemplo: “Aquele Mendes Mutenda de Sussundenga que tem uma altura 1,82, está em estado crítico por causa de dívidas, facto que anda txonado”. A frase em aspas contem verdades como – Mendes Mutenda (verdade), de Sussundenga (verdade) – altura de 1.82 (verdade), estar em estado critico (falso) (por causa de dividas (falso), anda txonado (verdade - mas por falta mesmo de dinheiro - risos).

O boateiro (o fakenewseiro) não mudou de identidade. Continua aquele mesmo que andava de casa em casa, ou de amigo à amiga a dar informações falsas. O que mudou é a sua modernização. Ou seja, hoje ele usa o Facebook, WhatsApp e outras redes sociais.

Hoje, com a tecnologia há uma certa vulnerabilidade porque não se sabe mediar a absorção da informação que se recebe. É mais fácil repassar que eliminar o que recebemos que fala mal dos outros. Mas enfim, estão a fabricar minas retardas que um dia poderão amputar nossas pernas…

Mendes Mutenda

Mendes Mutenda

É jornalista moçambicano e natural de Sussundenga, na província de Manica. Foi formado pelas Escolas de Jornalismo (Médio Profissional) e Superior de Jornalismo. Há mais de 15 anos que trabalha na Comunicação Social, tendo passado pela rádio e televisão como apresentador de conteúdos informativos. Para além, de desempenhar funções na plataforma informativa Folha de Maputo é Docente-estagiário da Escola Superior de Jornalismo e analista de assuntos sociopolíticos em Moçambique.