Opinião

Pai, volte para casa…!

Meu pai, escrevo-lhe estas pequenas linhas para o convidar a regressar para a casa onde nos deixou há um tempo. Tem sido difícil conviver com esta dura realidade.

Levei um tempo para compor estas pequenas linhas porque a dor é tanta. O seu dinheiro ilimitado que manda à mãe para o nosso sustento, desde a carrinha, combustível para viatura da mamã, escola e nossos lanches, não cobre o vazio que deixou em nós.

Pai, volte para casa! Eu, sua filha de 10 anos, escrevo em nome de todos os filhos. Pai, volte para casa onde nos deixou. Está a ser difícil lidar com o luto, ou seja, sermos órfãos de pai mesmo estando vivo. Mãe tentou justificar que pai encontrou um emprego fora do país e que só iria mandar mesadas.

Que fora do país é esse que, na verdade, é um “território” 20x15m, com três quartos, uma sala e cozinha, governado pela tia de nome má-drasta? Que vida é essa egoísta, meu pai? Sinto saudades dos fins-de-semana em que, com o pouco tempo que tinha para nós, nos levava para um passeio que terminava num sorvete. Não gostaria de ter um outro pai que não seja você.

É uma dor tremenda. Em todos os círculos de amizade em que estamos inseridos, cada criança a contar como foi o fim-de-semana com os seus papás, e eu apenas lamento e choro pelo 1 de Junho que jamais será o mesmo. Pai, eu já não posso contar isso!

Tão cedo vou guardando tristes memórias, simplesmente por causa de um sms que entrou no celular de pai à madrugada, ao qual mãe reagiu mal. Será que merecemos este castigo? Pai só pensou em si. Pai não pensou no Júnior, pai não pensou em todos nós. Pai só encontrou a solução de ir viver noutra casa, com uma outra mulher, quiçá, nossa má-drasta, ainda que fosse boa-drasta.

Pai, volte para casa! Tenho aqui seus presentes: duas gravatas de papel, do Dia dos Pais. Uma sou eu que desenhei e outra é a formadora do Júnior que o ajudou a desenhar. Sabe que ele está no último ano da escolinha?

Pai, volte para casa! Estamos aqui à sua espera. Informe a tia que está de regresso ao seu país. O país certo é aqui em casa. Por mais divergência tivesse com nossa mãe, que as apagasse com a borracha da memória do dia do vosso casamento:

“…Eu recebo-te por minha esposa
e prometo ser-te fiel,
amar-te e respeitar-te,
na alegria e na tristeza,
na saúde e na doença,
todos os dias da nossa vida…”


Pai, volte para casa… Pai, volte para casa… Pai, volte para casa…!

Da sua filha mais velha (10 anos)

Mendes Mutenda

Mendes Mutenda

É jornalista moçambicano e natural de Sussundenga, na província de Manica. Foi formado pelas Escolas de Jornalismo (Médio Profissional) e Superior de Jornalismo. Há mais de 15 anos que trabalha na Comunicação Social, tendo passado pela rádio e televisão como apresentador de conteúdos informativos. Para além, de desempenhar funções na plataforma informativa Folha de Maputo é Docente-estagiário da Escola Superior de Jornalismo e analista de assuntos sociopolíticos em Moçambique.