Opinião

Recados da Outra

Estamos num dia que para muitos é difícil. Um dia que, entretanto, devíamos encarar com toda a naturalidade, com os pés assentes no chão, e firmemente dizermos que hoje é um dia como os demais do ano.

Muitas como eu, a Outra, assumiram que não devem tentar ser a própria. Mas mana, a própria, não tentes inflacionar e sufocar o nosso marido com jantaradas, só por imitação ou para postar nas redes sociais. Neste momento de crise de tudo, é preciso saber comer e limpar a boca, para não ofender as que não têm comida.

Há muito que ando calada. Foi um conselho que me foi dado, para as coisas continuarem boas como hoje e para sempre. Na família, também fui educada e aproveito informar as que andam por aí a exibir maridos. O que é teu é teu, mas quando colocas na montra do mural do Facebook, com todo o charme, fica a saber que muitas minhas “colegas” estão de olho.

Mana mais velha, hoje seria mesmo o dia de deixá-lo ver futebol. Não vale pedir emprestado bom batom para “vidas largas” com o nosso marido, enquanto o resto dos dias quem cuida dele sou eu. Ele é o que é, em parte, apresentável, porque eu “txuno o tipo”. Mana, não tens tido tempo para alinhar o vinco nem verificar golas das camisas e casacos se estão “desbobinadas” ou sujas. Mana, não tens cuidado dele. Hoje só te olho quando tentas, de mãos dadas, assumir como se estivesses a cuidar bem dele.

Manas iguais a mim, as chamadas guerreiras, hoje, dia 14, normalmente não é nosso dia. Ainda que ele tente vir almoçar, fazer um programa do dia, as pessoas não são cegas e vão perceber que não és a própria. Não tentes comprar flores e te ofereceres a ti mesma via Portador Diário, Pétalas de Amor ou algo semelhante, só para no dia 15 puxar a conversa de que ele me ofereceu isto e aquilo. Autopresenteares-te é bom mas, quando a ideia é querer mostrar à sociedade que quem deu é um namorado, frustra mais. É melhor aguentar até sexta-feira, que sabemos que a vida volta à normalidade, ter-se-á se esquecido se algum dia houve Dia dos Namorados.

Aos que efectivamente querem passar o dia, evitem sufocar-se nas contas só porque alguém fez algo igual ou diferente.

Meu marido, ver-nos-emos na sexta-feira. Aquelas tuas cervejinhas, aquela garrafa velha, está lá em casa à tua espera. Vou fazer “aquele” água e sal de pato.

Boa sorte! Espero que gostes do presente que guardo para ti, para o nosso dia 14, sexta-feira, de todas as semanas, nossos dias.

*Crónicas in Mutendamente Falando

Mendes Mutenda

Mendes Mutenda

É jornalista moçambicano e natural de Sussundenga, na província de Manica. Foi formado pelas Escolas de Jornalismo (Médio Profissional) e Superior de Jornalismo. Há mais de 15 anos que trabalha na Comunicação Social, tendo passado pela rádio e televisão como apresentador de conteúdos informativos. Para além, de desempenhar funções na plataforma informativa Folha de Maputo é Docente-estagiário da Escola Superior de Jornalismo e analista de assuntos sociopolíticos em Moçambique.