Opinião

Sociedade Civil impávida em relação aos desmandos da Renamo

É inaceitável que a chamada Sociedade Civil organizada seja, cada vez mais, refém de agendas abscuras, do que em questões de interesse comum.
-frahm-

A Sociedade Civil representa representa uma rede de instituições de origem privada e de finalidade pública. A sua constituição apoia-se na pertença dos membros a instituições. A sua finalidade estende-se a todos fins compatíveis com um bem comum. A sua dimensão é extraordinariamente variável, desde a esfera local à transnacional. A Sociedade Civil é, assim, uma rede de instituições culturais, cívicas, religiosas, sociais e económicas, soprepostas por laços mútuos e entrosadas por múltiplos micro poderes. As suas faces são as mais diversas, em virtude da múltipla pertença individual e da potencial presença transnacional e global, (Faial, 2005).

Dos poderes as redes de informação, de igrejas, clubes desportivos, meios de comunicação, até as associações empresariais, sindicatos, as organizações - nao - governamentais, a Sociedade Civil renova os equilibrios políticos sociais, criando um " caos criativo".

Desfa feita, a Sociedade Civil constitui o domínio das associações privadas voluntárias, grupos de interesses locais, regionais, associações sindicais, filantrópicas, recreativas, culturais, paroquias, organizações de defesa do ambiente, do património, dos direito do consumidor entre outras. Num sentido maximalista , inclui todos tipos de associações de origem privada e finalidade pública e que formam o mosaico complexo das sociedades contemporâneas: familias, igrejas, orgãos de comunicação social, empresas, organizações não governamentais, movimentos sociais, grupos de interesse, e grupos informais de pessoas empenhadas em actividades de alcance público.

O extrato acima, releva que estamos perante a coexistência de instituições entrosadas e sobrepostas em rede. Ora, em Moçambique, a Sociedade Civil parece manter-se impávida em relação aos grandes problemas de interesse público, sobretudo no que respeita a paz. Estamos perante uma Sociedade Civil que furta-se do papel promordilal, que deveria desempenhar na arena para o bem comum. Era suposto que tivessimos uma Sociedade Civil mais actuante, que facilmente se arrepiasse quando a vida humana fosse colocada em causa, porque daqui derivam todas finalidades pelas quais foram criadas. Inúmeras vezes assistimos as organizações da sociedade civil, organizando marchas em defesa da liberdade de expressão, dos raptos, contra crise politica, situação económica do pais, atitudes até certo ponto louváveis. Mas o grande problema é que a Sociedade Civil estratifica os problemas que julga mais importantes para um determinado nicho, em detrimento daqulio que realmente preocupa todo povo moçambicano.
Parece que para este grupo, por exemplo, há mortes mais importantes que as outras, mesmo que sejam de moçambicanos genuínos. Parece que há crises que são mais devastadoras na periferia do que no asfalto, parece que a inflação foi uma encomenda para elevar o custo de vida apenas de uma menoria. A Sociedade Civil, finge não conhecer o principal actor responsável pelas grandes barbaridades comemtidas ao povo. Ainda não vimos a Sociedade Civil insurgir-se em relação as matanças, pilhagens e sabotagens cometidas pelos homens armados da renamo. Ainda não vimos a Sociedade Civil culpabilizar esta renamo em relação ao martírio a que a população esta sujeita, não podendo produzir comida, derivado dos ataques constantes que tem cometido.

A Sociedade Civil deveria constituir a cura para os grandes cancros socias, através do reforço da cidadania e, de uma participação activa e decisa no processo de governação do país. Mas as evidências, demostram que estamos perante uma Sociedade Civil parcial, dependente, desorganizada, dividida, e muita das vezes urbanística, que exclui de forma flagrante, os actores comunitários como se elas (organizações do asfalto) fossem as mais importantes. Que persegue interesses externos, que não esta ao serviço do povo, ou cumprindo com as finalidades pelas quais foram criadas, mas cumprindo com a devida minúcia, agendas abscuras, tudo em nome um povo inocente. Gostariamos de ter uma Sociedade Civil mais actuante, que fosse capaz de ajudar as partes a reverter o actual cenário em que o país se encontra.

Eurico Nelson Mavie

Eurico Nelson Mavie

É natural de Maputo e formado em Administração Pública pelo Instituto Superior de Relações Internacionais e Diplomacia. Nesta instituição presidiu a Associação dos Estudantes e foi colaborador do Conselho Nacional da Juventude (CNJ). Após conclusão do curso, foi convidado a trabalhar na New Vision (Centro de Formação Profissional) como Director Pedagógico. Na mesma altura foi encarregue de chefiar a equipa responsável pela codificação do Acervo Documental da Unidade Técnica da Reforma do Sector Público. Actualmente é pesquisador e analista político.